domingo, 15 de novembro de 2009

Tamanho não é documento

Num primeiro momento quando ouvimos a palavra , a visão e o entendimento que temos se relaciona a pessoas que lêem a Bíblia, que tem uma vida de oração... Se tivéssemos que lembrar de uma pessoa de fé lembraríamos de alguém que conhecemos lá na igreja, uma pessoa sempre presente nas missas, celebrações, etc.

Fazemos assim porque geralmente associamos fé àquelas expressões: fé católica, fé protestante, fé espírita... E assim vai. Acabamos tornando a fé como uma expressão de espiritualidade, quando na verdade ela não é.

A definição perfeita diz que a fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê (Hebreus 11, 1). Em outras palavras, a fé é uma certeza tão grande que se tem dentro do coração de que aquilo que não conseguimos ver no presente vai ser real em breve.

Esse fato de acreditar que o invisível pode se tornar real explica muitas coisas. Com certeza você deve conhecer alguém muito sortudo, que tem alcançado muitas coisas boas em sua vida, parece que tudo o que fulano faz dá certo, e o interessante é que muitas vezes essa pessoa nem vai à igreja, nem conhece a Deus, não participa de nenhum ministério, uma pessoa que “não tem fé alguma...” Chegamos até a ficar revoltados com Deus: eu faço isso, faço aquilo, vou à igreja, oro, rezo e nada de bom me acontece, enquanto o fulano que nem vai à missa é abençoado. E mais blá, blá, blá...

A fé é um dom dado por Deus para todas as pessoas, ricas e pobres, belas e feias, que tenham alguma religião ou não. E como todos tem esse dom, o que faz a diferença é como ele é usado. Independente da crença, todos utilizamos nossa fé, às vezes de maneira certa, e na maioria das vezes de maneira errada. A prova de que exercitamos esse dom é que sempre estamos esperando que alguma coisa aconteça, que algo invisível se torne real, e quando acontece nem ficamos espantados, sempre dizemos: eu sabia! Por exemplo, se alguém vier a você e disser que mais um deputado ou senador foi indiciado por corrupção, por fraude, roubo ou coisas do tipo, nós acreditamos facilmente sem nem conferir em algum jornal, porque esse é o tipo de coisa que esperamos. Esperamos que o Rio de Janeiro seja cada vez mais violento. Que a Amazônia seja cada vez mais desmatada. Que o trânsito em São Paulo seja sempre caótico. Que os terroristas literalmente “explodam” no Oriente Médio. Que as crianças pobres da África fiquem cada vez mais desnutridas... Lá no fundo, nem aconteceu, mas temos uma certeza a respeito do que não se vê quando se trata dessas coisas.

E independente se a certeza que se tem é boa ou ruim, a palavra também diz que a esperança não engana (Romanos 5, 5), e em mais ou menos tempo vamos ver de maneira real aquilo que esperávamos.

É por isso que algumas pessoas, que embora não conheçam a Deus, tem vidas abençoadas com coisas que às vezes estamos pedindo em oração ao longo de anos, sem nunca conseguir nada. Às vezes esses abençoados que nem sequer sabem onde fica a igreja e que não tem a mínima noção do que é fé, justo eles sabem utilizá-la muito mais do que aqueles que se julgam pessoas de fé.

Temos o costume de dizer que Deus ajuda quem cedo madruga, mas nem lembramos que a verdade é que aos seus amados Deus dá enquanto dormem (Salmo 126, 2). Não estou dizendo pra ficar em casa dormindo porque Deus vai depositar seu salário todo mês, mas se cremos que todos os dias temos que sofrer em nosso trabalho, que tudo nessa vida é difícil, que as pessoas ao nosso redor nunca vão mudar, é isso que esperamos, é isso que vamos ter.

Certa vez Jesus ensinou aos seus discípulos como utilizar esse dom:

Em verdade vos declaro: todo o que disser a este monte: ‘Levanta-te e lança-te ao mar’, se não duvidar no seu coração, mas acreditar que sucederá tudo o que disser, obterá esse milagre. Por isso vos digo: tudo o que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido, e ser-vos-á dado (Marcos 11, 23 – 24).

O segredo do bom uso da fé é não duvidar e acreditar, e embora nas palavras isso pareça fácil, na prática pode se tornar um pouco difícil porque aprendemos desde pequenos com nossa família a ter um pé atrás com tudo e esperar o pior. Quando crianças nossa mãe diz sai de cima dessa árvore que você vai cair! Dito e feito, assim que ela vira as costas caímos. Esse é um exemplo simplório, mas retrata uma cultura de fé negativa. E pelo resto das nossas vidas deixamos de subir em árvores porque temos uma certeza de que vamos cair. Árvores que são medos que guardamos... Se eu fizer isso vai acontecer aquilo, se eu for até lá vai acontecer aquele outro... Vivemos com o guarda-chuva em nossa mochila esperando a pior tempestade.

Como todo dom, nem sempre sabemos colocá-lo em prática da maneira perfeita. Precisamos aprender, exercitar, sermos testados e então utilizá-lo “profissionalmente”. Mesmo o maior cientista do mundo teve que ser aprovado numa universidade pra garantir sua qualificação. Um músico pode tocar regularmente, mas se ele não estudar a respeito do seu dom, sempre haverá alguma limitação porque não foi submetido ao processo de aprendizagem das coisas que não sabe, e talvez ele nunca seja submetido a um teste que avalie o quanto ele sabe, e sem prova, não se aprova. Para a fé, que é um dom, se aplica a mesma situação. Nossa fé é provada pelas provações. Infelizmente até compreendermos que essa é a maneira de exercitar a fé, vemos os sofrimentos como maldições, como motivos de tristeza, parece que Deus ficou distante. O povo de Deus logo depois que saiu do Egito poderia ter chegado à Terra Prometida em onze dias, mas como não usavam da fé de maneira correta, ficaram quarenta anos vagando pelo deserto, até que Josué e Caleb vissem o lugar que Deus havia falado e dissessem ao povo com muita fé que apesar dos gigantes, apesar dos homens robustos, apesar de tudo, eles viveriam naquelas terras com a bênção de Deus (Números 13 – 14). Corremos o risco de ficar dando voltas pelo deserto da vida e nunca alcançar o que desejamos porque nossa fé nos faz permanecer nos lugares secos e áridos, onde só existe dor e sofrimento. O tempo e uma fé consciente nos farão sair do deserto das provações mais rápido do que esperamos, e as terras que vamos encontrar irão superar nossas expectativas.

Um último ponto interessante é que a fé pode nos levar aos lugares e conquistas que sonhamos, mas se esse dom não for usado sob a luz do Espírito Santo, a conseqüência será o pecado, e no futuro a morte. Corre-se o risco de colocar um dom dado por Deus a serviço de um prazer egoísta, quando na verdade todos os dons devem servir para o bem comum (I Coríntios 12, 7). Imagine um grande cientista com uma inteligência acima do normal a respeito de combinações químicas. Ele pode criar remédios que curem todas as doenças da humanidade, mas também pode criar armas biológicas ou armas de destruição em massa que podem exterminar toda a humanidade.

Quando o assunto é fé, tamanho não é documento, o que importa é como ela é utilizada. A fé utilizada da maneira correta irá nos dar uma coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de vestidos de luto, cânticos de glória em lugar de desespero (Isaías 61,3). A fé utilizada da maneira correta agrada a Deus (Hebreus 11, 6). A fé utilizada da maneira correta nos trará vida, e vida em abundância (João 10, 10).

Um abraço,

Gilberto Monteiro