quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Você tem fome de que? Você tem sede de que?

Todo ser humano sente sede e fome. São sinais de alerta do corpo dizendo que precisa de energia. À medida que nos alimentamos ou ingerimos líquidos, essas sensações passam, e isso todo mundo sabe. Mas o contrário, quando não comemos e bebemos, algumas coisas interessantes acontecem.
Quando deixamos de nos alimentar, os três primeiros dias são os piores. É quando a sensação de fome é avassaladora. Os sentidos ficam mais aguçados, em busca de qualquer sinal de alimento. Após esses três dias sem ingerir nada, o organismo “desliga” a sensação de fome e inicia um processo de “canibalismo”, digerindo as células do próprio corpo para obtenção de energia. Em dez dias, perde-se dez por cento do peso. Os batimentos cardíacos diminuem. O organismo desaprende a gerar energia da maneira usual, que começa pela boca. É por isso que pessoas desnutridas, principalmente em países da África, não podem ser alimentadas logo de início, há toda uma preparação para que o organismo reaprenda a se alimentar. Em dois meses inicia-se a degeneração do coração, e esse é o limite que um ser humano suporta, sessenta dias sem comer.
Quando deixamos de ingerir líquidos a situação é mais grave. Setenta por cento do nosso peso é água. É essa água que faz a comunicação entre as células e principalmente os neurônios, por isso a necessidade de ingerirmos no mínimo dois litros ao dia. Quando desidratamos um por cento, temos a sensação de sede. Aos cinco por cento, a pele fica seca, a mobilidade fica comprometida e os pensamentos e raciocínios mais simples não são mais possíveis. A partir desse momento o organismo “desliga” o sinal de sede, e chegando em dez por cento, a desidratação leva à morte. O limite é de sete dias sem ingerir líquidos.


Certa vez, Jesus foi seguido por uma grande multidão, em torno de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças, e vendo que estavam com fome realizou o conhecido milagre da multiplicação dos pães. Esse povo continuou seguindo Jesus porque viram nele uma forma fácil de viver: quando tivessem fome ele os alimentaria. Percebendo isso, Jesus disse em João 5, 6:
“trabalhem não pela comida que acaba, mas por aquela que dura para sempre, que o Filho do homem dará”. Em seguida, Jesus complementa: “Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede” (João 6, 35).
Toda essa conversa sobre fome e sede quer nos levar a um nível diferente de raciocínio. Jesus sabe da nossa necessidade de pão para o corpo, mas ele também sabe da necessidade de pão para a alma. Existe uma fome e sede que banquete nenhum pode saciar, e nesse ponto, a ausência de alimentação tem efeitos muito semelhantes na alma como tem no corpo.


A alma tem fome de coisas espirituais, e é por isso que todas as civilizações ao longo da História sempre tiveram sua religião e sua filosofia, sua forma de se relacionar com o divino, sua maneira de alimentar a alma. Quando não alimentamos nossa alma, ela busca alimento em si mesma, e assim como o corpo ela desaprende a se alimentar de coisas espirituais e passa a se nutrir do que está no coração. Infelizmente o alimento que encontramos em nosso íntimo são
maus pensamentos, homicídios, adultérios, impurezas, furtos, falsos testemunhos e calúnias (Mateus 15,19). É por isso que quando não estamos em uma relação verdadeira com Deus só conseguimos pensar coisas ruins, “matar” com indiferença as pessoas com quem nos relacionamos, somos infiéis às coisas que são certas, mentiras se tornam comuns e falar mal de qualquer pessoa nos faz bem. As almas que não saciam sua fome em Deus se alimentam de coisas, pessoas, fama, dinheiro. É por isso que programas de TV sobre famosos e seus escândalos fazem tanto sucesso.
Da mesma forma a sede tem um efeito mortal na alma. Ela perde seu brilho, sua capacidade de se mover em direção aos seus sonhos e os pensamentos mais fúteis dominam. Almas que não bebem a água da vida pensam em coisas rasas, suas conversas giram em torno das mágoas que carregam e de como a vida tem sido difícil.
Médicos dizem que o mais triste é que pessoas em processo de desnutrição e desidratação contínua morrem sem sentir. Seu metabolismo não indica mais a fome nem a sede, então o organismo entra em coma e silenciosamente morre. Muitas almas estão nesse processo, morrendo sem sentir. Mas a grande novidade é que
“há esperança, ainda que uma árvore cortada tenha sua raiz envelhecida e seu tronco morto, ao cheiro das águas, tornar-se-á verde de novo” (Jó 14, 7-8).
Jesus nos dá o caminho para saciarmos nossa alma:


Aquele que vai até Ele jamais tem fome. Precisamos ir até Jesus.Precisamos entrar mais em nosso quarto, fechar a porta e orar ao Pai que está em segredo (Mateus 6, 6). Poderemos compreender e provar melhor o mistério da Eucaristia quando criarmos intimidade com Deus através da oração pessoal e meditar sua palavra em nosso coração (Lucas 2, 19).
Aquele que crê n’Ele jamais tem sede. Quem revela Jesus por excelência é o Espírito Santo. Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor senão sob a ação do Espírito Santo (I Cor 12, 3). Quanto maior o relacionamento com o Espírito, maior nosso desejo de conhecer Jesus. O melhor disso é que o Espírito Santo é um vento, e sopra em todo lugar: na igreja, em casa, no trabalho, no ônibus, na rua... Ele é a água da vida que podemos beber a todo instante. A correria do dia-a-dia não permite uma intimidade com Deus a qualquer hora, “não conseguimos parar pra comer” no momento em que queremos, mas a qualquer instante podemos pensar: “vem, Espírito Santo”. Podemos ouvir em nosso MP3 player:“ vem, Espírito Santo”. Podemos fechar nossos olhos por alguns segundos e do fundo da alma clamar: “vem, meu amigo, Espírito Santo”. Assim como uma garrafa de água que temos à mão para matar a sede do corpo ao longo do dia, o Espírito Santo é o rio de água viva que podemos beber a qualquer instante.


Almas que saciam sua fome e sede em Jesus são mais sadias. Os olhos de pessoas assim brilham mais. Mesmo com problemas, elas tem em si uma esperança que não engana.
Muitas pessoas cantam por aí: “
A gente não quer só comida, a gente quer a vida como a vida quer” (Comida – Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto). Hoje, nossas almas precisam cantar:Queremos o pão da vida, a água da vida, como Cristo quer.

Um abraço,
Gilberto Monteiro
www.gilbertomonteiro.com.br

Matéria exclusiva para o Portal Católico