sábado, 20 de fevereiro de 2010

Feirantes na igreja

Todo domingo, quando não estou em missão e estou em casa, gosto muito de ir à feira do meu bairro, aquela onde se compra frutas, verduras, etc. O horário bom de movimento começa pelas nove horas da manhã, é quando o pastel já está no ponto, e toda boa feira tem seu famoso pastel. Dá pra encontrar muita gente conhecida, conversar e depois fazer as compras. Em um desses dias especialmente, ao comprar entre outras coisas alguns tomates, me lembrei de uma formação que ouvi no discipulado da Missão IDE.
O tomateiro (planta do tomate) e o feirante, ambos possuem o mesmo objetivo, fornecer tomate. Mas os meios pra fazer isso são diferentes para cada um.
Todo dia de feira, o feirante levanta cedo e vai até a distribuidora de frutas e verduras da região onde compra os tomates que vai revender, porque ele somente vende o tomate, ele mesmo não o possui, então precisa comprar pra depois revender. Todo vegetal que serve à alimentação tem seu tempo, sua estação correta, mas como nem sempre se pode esperar esse tempo, o feirante acaba levando um tomate amadurecido “à força” com o uso de agrotóxicos ou coisas semelhantes, e esses tomates embora sejam bem vermelhos e bonitos, quase não tem sabor. Isso também faz com que os clientes procurem outras bancas de tomate na feira, em busca de um que tenha sabor. O feirante vende o tomate com a intenção de receber algo em troca, independente do que está vendendo. Poderia ser qualquer outra fruta ou verdura, o importante é o lucro que gera, é esse valor que vai manter e sustentar sua vida, sua maneira de trabalhar e sobreviver.

O tomateiro, plantado em alguma horta, recebe o sol, a chuva, e vai juntando seus nutrientes, às vezes com a ajuda de algum adubo, até que no tempo certo o tomate fique vermelho e mostre que está pronto pra ser colhido, mostre que amadureceu. Depois de colhido, o tomateiro fica vazio, seus frutos são todos retirados sem que ele receba algo em troca. E a única coisa que ele pode fazer é retomar o motivo pelo qual existe: produzir tomates mais uma vez. Os frutos que foram colhidos nessas condições possuem um sabor verdadeiro de tomate e são muito saborosos.
Com esses fatos percebi como é grande o risco de sermos feirantes dentro da igreja. Há situações em que não temos a capacidade de saciar a fome das pessoas e acabamos comprando frutos de outros lugares pra revendermos na igreja onde participamos, imitando o que outros ministros fazem, vendendo algo que nós mesmos não possuímos, e o interessante é que quando fazemos assim sempre esperamos algo em troca: um elogio, um aplauso, coisas que possam manter e sustentar nosso ministério. Determinados momentos chegamos a “empurrar” um fruto que o povo nem precisa, mas como temos o nosso jeito de trabalhar e sobreviver com nossos dons, fazemos grandes ofertas dos  nossos frutos. Não conseguimos oferecer ao povo as frutas da estação, frutas da época certa, então como não esperamos o amadurecimento acabamos dando pregações e canções sem sabor que não saciam ninguém, e quando não matamos a fome do povo, ele busca em outras “feiras” algo que sacie de verdade.

Precisamos ser tomateiros, na igreja e na sociedade. Temos uma missão, um chamado, produzir determinado fruto, fazer render determinado talento (Mateus 25, 15). Somos “como a árvore plantada na margem das águas correntes: damos frutos na época própria, nossas folhagens não murcharão jamais. Tudo o que empreendemos, prospera” (Salmo 1, 3). Estamos plantados em Deus, de onde recebemos unção, sabedoria, inteligência e tantas outras características do Senhor que nos fazem amadurecer no tempo certo. Quando estamos maduros o povo é quem nos procura e é Deus quem abre as portas de lugares para ministrarmos. Frutos maduros são um deleite para o povo, e as pessoas irão voltar sempre, em busca daquele sabor incomparável. Se formos realmente tomateiros nossos ministérios nunca dependerão de retribuições como aplausos e elogios para continuar a existir, porque essas coisas não fazem diferença no crescimento ou amadurecimento dos nossos frutos, também porque como o tomateiro, depois de frutificarmos, a única coisa que podemos fazer é retomar o motivo pelo qual existimos: produzir frutos mais uma vez.

Independente do carisma que temos ou do chamado que possuímos, o importante é frutificar. E que os frutos sejam genuínos.

Boa quaresma a todos!

Um abraço,
Gilberto Monteiro


*dedico esse texto aos meus amigos da RCC da comarca de Araranguá-SC. Nosso Carnaval foi só alegria, ALEGRA-TE!



Você pode fazer o download da formação que citei através do link CARISMA E CARÁTER.