sexta-feira, 19 de março de 2010

O irmão do filho pródigo

Um domingo desses, depois que saí da missa, fiquei pensando no evangelho que havia sido lido. Era a famosa parábola do filho pródigo. Tantas canções já foram inspiradas nessa passagem, falando sempre a respeito do que mais nos atrai quando a lemos: o amor e a misericórdia do pai em relação ao filho que estava perdido e foi encontrado, estava morto, mas agora vive (Lucas 15, 24). Nesse domingo, em especial, pensei mais no irmão do filho pródigo, aquele que ficou indignado com a festa que o pai estava dando.

Meditar nesse indivíduo me fez lembrar uma vez que fui pra minha cidade natal, Rio Branco do Sul/PR. Nessa ocasião o assunto do momento era uma igreja evangélica que estava arrebanhando muita gente na cidade. Jovens, adultos, famílias, não havia um grupo específico, algo de bom estava acontecendo naquele lugar e o povo estava lotando todos os cultos que eram realizados. Lembro-me que conversando com alguns conhecidos meus que eram do mesmo grupo de oração que eu participava, houve um comentário que ficou na minha mente: “eu nunca vou participar daquela igreja, lá só existe ex-prostituta, ex-drogado, ex-traficante, ex-ladrão...”.
Essa fala ficou na minha memória tanto tempo e voltou nesse domingo quando ouvi de novo o evangelho do pródigo. Me fez pensar que conseguimos nos identificar muito com o filho mais novo quando estamos longe de Deus ou quando ainda não o conhecemos, e lá no fundo do poço, resolvemos voltar pra casa do pai. Basta ouvir a canção Abraço de pai* pra lembrar da nossa conversão ou de um momento em que voltamos pra Deus. Muito bonito e emocionante, mas depois que já estamos na igreja, que estamos integrando o corpo de Cristo, que muitas vezes o servimos de alguma forma, dificilmente nos identificamos com o filho mais velho, apesar de a maioria de nós termos as mesmas reações que ele. Preciso confessar que muitas vezes eu me portei da mesma forma, sem nem perceber. Já chorei quando fui um pródigo e voltei pros braços do pai, mas já esbravejei quando vi um “pecador” cantando no meu lugar. Já me achei indigno de voltar pra Deus por causa dos meus erros, mas também já julguei determinada pessoa como indigna de estar pregando por causa dos erros que cometeu no passado. Eu voltei pra casa do pai e ganhei uma festa, mas muitas vezes eu fiquei de luto quando meu irmão estava ganhando uma festa do mesmo pai que me acolheu.
O pai, quando recebe o filho mais novo, o coloca em um lugar de honra. Troca suas roupas, porque agora o que veste a vida dele é um novo jeito de viver, independente do passado. Coloca um anel em seu dedo, porque agora ele pertence de novo a uma linhagem, a uma descendência, a uma família. Põe sandálias novas, porque o caminho a trilhar é outro, novos rumos, novos calçados. Quantas vezes eu insisti em enxergar as vestes antigas daquele indivíduo lembrando pra mim mesmo e pra todo mundo o que ele fazia, quando na verdade nem Deus se lembra mais daquilo. Quantas vezes eu fui indiferente com algumas pessoas, como se nem fôssemos da mesma linhagem, nem tivéssemos a mesma descendência: não éramos da mesma família. Quantas vezes eu fiquei esperando que determinada pessoa voltasse para os caminhos antigos, só pra dizer: “eu sabia, eu disse, eu avisei!”.
Francamente, como vamos reagir se todos os criminosos se converterem? Se todos os que cometeram adultério no casamento voltarem ao nosso convívio? Se as prostitutas freqüentarem o mesmo grupo de oração que o nosso? Se algum homossexual sentar no mesmo banco onde eu estou dentro da igreja? Se algum mal visto pela sociedade estiver na mesma fila de comunhão? Como reagiremos quando vier o Reino de Deus?
Eu preciso aprender que a casa do Senhor é a casa da “ex-prostituta, ex-drogado, ex-traficante, ex-ladrão...”. E como bom irmão mais velho, que eu ajude o pai a colocar novo jeito de vestir a vida, novo jeito de ser família, novos calçados pra um novo caminho.
Já se pode ouvir os sons das músicas e das danças ao se aproximar da casa do Pai (Lucas 15, 24). É o som dos redimidos que descobriram o caminho de volta. É a comemoração do céu pela conversão de um pecador. É o júbilo do pai ao ver todos os seus filhos juntos: os pródigos e os seus irmãos.
Um abraço,
Gilberto Monteiro

*Abraço de pai: música inesquecível no dueto da Adriana com Walmir Alencar, ou nas versões do próprio Walmir no CD Imagem e Semelhança e ao vivo no DVD Hoje livre sou do Ministério Adoração e Vida.