quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

AMANHECEU


Ano passado, em 2009, a Missão IDE passou por um fim de semana muito diferente. Fomos convidados por um padre a visitar todas as casas do bairro onde era a sua paróquia, que ficava em uma das regiões mais carentes de Taubaté/SP, convidando o povo para participar de uma missa especial, cheia de música e orações avivadas naquela mesma noite. Nossa missão quando fôssemos visitar as famílias era verificar se todos eram batizados, se participavam de alguma igreja, orar pela casa e seus moradores e por fim fazer o convite para a missa logo mais à noite. Como o bairro era grande, visitamos metade das casas no sábado e a outra metade no domingo, sempre convidando para a celebração da noite.
Éramos cerca de vinte pessoas enviadas dois a dois para a missão naquele bairro. Ao final de cada período, quando voltávamos para almoçar ou para um café antes da missa ao final do dia, fazíamos uma partilha geral sobre o que encontramos. Visitamos muitas pessoas pobres, eu diria até miseráveis, que não possuiam nem comida em casa. Lembro da situação de uma senhora muito simples com seus três filhos pequenos e outro um pouco maior que a ajudava. Entramos na casa dela e não havia higiene alguma. Sua história era sofrida, falou muito de como foi injustiçada porque possuia uma casa própria que foi tomada assim que o marido morreu e agora ela estava naquele cortiço com seus quatro filhos esperando a justiça determinar a retomada da casa.
Me recordo de uma outra senhora de semblante muito triste, que ao saber que éramos católicos disse que era evangélica e agradecia nossa disposição mas não queria receber nossa oração. Ela fechou o portão e nós fomos em direção a próxima casa, mas enquanto andávamos decidimos voltar e insistimos em orar por aquela mulher triste. Imediatamente ela abriu o portão chorando e sentou-se no quintal da sua casa. Oramos pelo filho dela que há dias não aparecia em casa porque era viciado em cocaína e agora estava envolvido com o tráfico. A casa já não tinha mais TV, rádio, porta-retratos... A droga levou essas e outras coisas em troca do sustento do vício. A casa já não tinha mais paz, amor ou sonhos. A droga levou tudo.
Oramos por uma senhora em fase terminal de câncer que morava sozinha em uma casa de madeirite e lona. Rezamos por uma família marcada pelo adultério, em que o pai da família havia saído de casa para morar com outra mulher, a esposa abondonada estava imersa numa depressão profunda, a filha desse casal era mãe solteira e não suportando toda a pressão abandonou sua filha de sete anos com a avó e há tempos não dava notícia. A depressão daquela senhora a afastou do seu trabalho e o INSS ainda não havia aprovado o afastamento remunerado e todas as contas estavam atrasadas. A menina de sete anos chegou enquanto conversámos e viu a avó chorando. Ela se sentou ao lado da avó e chorou junto...
Houve quem visitou bares com pessoas bêbadas logo nas primeiras horas da manhã. Houve quem orou por prostitutas e travestis de um prostíbulo que havia na região. Naqueles dias todo aquele bairro foi visitado e a Missão IDE foi visitada por um Jesus que sofre, um Jesus que espera uma sentença justa do tribunal, um Cristo viciado e se afundando cada vez mais no vício, um Jesus desfigurado pela venda do seu corpo todas as noites em troca de algum dinheiro, Jesus doente, injustiçado, abandonado e sofrido.
Faltavam várias coisas na vida daquelas muitas pessoas que visitamos, mas uma coisa faltava de maneira generalizada em quase todas: a esperança. Sem a esperança, muitos dos moradores daquele bairro não conseguiam imaginar nenhuma possibilidade de mudança da situação, por mais remota que fosse. Tudo que possuiam era o seu abatimento e muitas vezes uma certeza de que aquela dor os acompanharia pra sempre. Tudo era noite.
A palavra de Deus diz quem pode com um espírito abatido? (Provérbios 18, 14) Sem esperança o futuro não possui horizonte. Mas ao contrário de tudo isso, a Bíblia também diz que a esperança não engana (Romanos 5, 5), e mais, um grito de esperança vem do Salmo 124, 4-6: Mudai, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes nos desertos do sul. Os que semeiam entre lágrimas, recolherão com alegria. Na ida, caminham chorando, os que levam a semente a espargir. Na volta, virão com alegria, quando trouxerem os seus feixes.
Algumas obras sociais daquela cidade tentam atender aquele povo em suas necessidades de dignidade. Nossa missão naquele lugar, especificamente naquele fim de semana, foi reacender a luz do fim do túnel e mostrar que os sofrimentos da presente vida não se comparam à glória que virá. Que todo sofrimento permitido por Deus quer nos ensinar a viver melhor e na medida em que aprendermos, a esperança que cultivamos vai se tornando verdade e todo pranto é transformado em dança (Salmo 29, 12).
Depois daquele fim de semana minha visão mudou muito a respeito do Reino de Deus para os esquecidos da sociedade. O avivamento que tanto falamos aqui na Missão IDE só tem sentido se o Reino de Cristo for implantado em nossa geração, a começar pelos que mais sofrem, que são os prediletos de Deus. Com esse sentimento no coração e com toda essa visão, Deus me inspirou uma canção de esperança. Escrevi uma música que se chama Amanheceu e dá nome ao meu primeiro CD que será lançado no Aviva Brasil de 2011, no sábado do dia 15 de janeiro às 20h00. Maiores informações no site www.missaoide.com.br . Deixo aqui o meu convite para o lançamento do CD e a letra da canção que o Senhor quer colocar no coração dos aflitos desse mundo.

Amanheceu
No caminho de quem sofre sempre existe alguma dor
Só quem luta tem na alma alguma marca que ficou
Quando a estrada dessa vida está difícil de passar
E o horizonte bem distante já não dá pra enxergar
É preciso levantar os olhos para entender
Quando a noite esconde a luz, logo vai amanhecer

Pode o choro durar uma noite, mas a alegria vem com o sol da manhã
Todo aquele que já semeou com as lágrimas
Sorrindo colherá o bem que esperou
E o mundo então verá toda a virtude do Senhor
Que é capaz de dar ao homem sofredor, vitória

Sei que podes afastar esse cálice de mim
Retirando toda a dor que existe em meu viver
Eu espero em ti, Senhor, a noite escura vai passar
Seja feito o teu querer enquanto eu existir


Peço desculpas pela longa ausência daqui do blog, pra esse CD "Amanhecer" levou muito tempo e dedicação. Em breve mais novidades vão acompanhar esse CD.

Paz e fogo!
Um abraço,
Gil Monteiro

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A criança que não cresceu

Todos nós já fomos crianças um dia. Algo que me faz bem é ver algumas fotos que “roubei” da minha mãe de quando eu e meu irmão éramos pequenos. Tudo isso me faz lembrar dos momentos bons. Das brincadeiras. Dos coleguinhas de escola. Dos aniversários. Uma foto memorável que tenho é uma que em estão faltando alguns dentes no meu sorriso. Boas lembranças! Mas essa fase não possui somente lembranças tão agradáveis. Minha mãe sempre lembra o quanto eu era uma criança birrenta e como eu gritava e chorava quando meus pais não davam algo que eu pedia. A infância também tem essas coisas... Birras por não ter o que se quer. Brigas com primos e amigos sem motivo algum. Sem contar a fase da mentira, quando as crianças vivem inventando as coisas. Não podemos esquecer também a fase em que a criançada sempre quer ser o centro das atenções, por exemplo no meio de uma conversa, sempre se intrometendo nos assuntos dos adultos... E assim vai! Inúmeras situações que quando vemos sempre dizemos: “coisas de criança!” Mas tudo isso são fases que vão sendo substituídas até que a criança amadureça e entre na fase adulta.
Algo interessante é notar que em alguns de nós sempre fica algum resquício dessas fases, e isso é perceptível em nossos círculos de relacionamento, seja na igreja, seja na faculdade, trabalho ou família. Você já deve ter passado por uma situação em que uma pessoa acima de qualquer suspeita, que você conhece, quando está sendo contrariada começa a gritar, às vezes agredir, apresentando reações inesperadas, verdadeiras birras. Ou então certos comportamentos do tipo carente demais, a síndrome do coitadinho, sempre se sentindo isolado e excluído de tudo e de todos, porque na verdade gostaria de ser o centro das atenções. E os famosos briguentos? Aqueles que “não levam desaforo pra casa”, que tem prazer em entrar numa briga, até mesmo sem motivo. Sem contar aquelas pessoas com quem convivemos e que tem o hábito de mentir sempre, em qualquer situação. E assim vai! Diversas situações que quando vemos, chegamos até a pensar: “isso parece coisa de criança!”
Em uma formação que tive recentemente lá na Missão IDE, fui confrontado com essa verdade, de que quando não tivemos uma infância bem resolvida, acabamos carregando as coisas de criança pra fase adulta. Muitas vezes quem está gritando dentro de uma pessoa que se descontrola quando é confrontada é aquela criança que aprendeu de maneira errada com os pais que pra conseguir qualquer coisa ela precisa gritar. Quase sempre quem vive se sentindo isolada e sem amor dos outros é a criança que não teve atenção suficiente dos pais na sua infância e tenta compensar depois que cresce em meio ao grupo de pessoas com quem convive.
Confesso que esse ensinamento que tive me confrontou em um dos meus pontos mais fracos, que é a necessidade de aprovação que tenho dentro de mim. E olhando minha história percebi que eu sempre fui daqueles que não se opõe, nunca diz não, que se preocupa demais com o que os outros vão pensar, que precisa da aprovação de todos para continuar. Sei que fui uma criança boa, um aluno exemplar, mas o que movia essas virtudes em mim? Estou descobrindo que era uma necessidade de aprovação diante da minha família e que tenho trazido até hoje. Isso revelou a criança mal resolvida que ficou no meu passado e que interfere até hoje nos meios onde me relaciono: pessoal, profissional e ministerial.
A palavra diz que Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens (Lucas 2, 52). Quantas vezes crescemos somente em estatura? Talvez você já tenha até freqüentado uma academia, que faz bem pro corpo, ajuda a crescer, mas somente em estatura. Corremos o risco de aparentarmos ser pessoas adultas, mas quando a vida nos colocar em alguma situação adversa, a criança lá dentro vai gritar, espernear, mentir, querer ser o centro... Paulo escreve aos Coríntios: quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança (I Coríntios 13, 11). O mundo precisa cada vez mais de pessoas bem resolvidas e que deixam as coisas de criança para trás. O reino de Deus é feito de homens e mulheres que cresceram em sabedoria e graça, que sabem administrar adversidades, que lidam muito bem com conflitos. E fazem isso dentro de casa, nas escolas, nas fábricas, igrejas, ruas...
Nunca é tarde para esse crescimento. Vale a pena olhar pra nossa história, avaliar nosso comportamento do presente, pedir opinião dos amigos, se auto-analisar sem medo, e confrontando a realidade, que pode não ser muito boa, procurar ajuda e decidir crescer. Estou lendo um livro muito bom e que está me ajudando a ser melhor naquilo que ainda é difícil pra mim. Eu possuo amigos que estão me ajudando a ser melhor.
Tenho certeza que seremos mais úteis a Deus e à sociedade se formos adultos em estatura, sabedoria e graça. É hora de crescer!
Um abraço,
Gilberto Monteiro
Missão IDE

...quero deixar aqui também registrado meu pedido de desculpas pela demora nas postagens. Deus tem feito muita coisa em minha vida e esse tem sido um tempo de muitas boas novidades que tem tomado bastante tempo... Em breve essas novidades irão aparecer!

sábado, 24 de abril de 2010

POTENCIAL EM MOVIMENTO

Imagine uma pessoa bem no alto do prédio Mirante do Vale, o maior arranha-céu do Brasil, que fica no centro de São Paulo, com 170 metros de altura. Essa pessoa está segurando uma pedrinha bem pequena na mão. Quando ela olha lá de cima, as pessoas e os carros que passam em baixo parecem pontinhos que não se sabe ao certo o que são. A pedra na mão dessa pessoa, no momento em que ela está entrando no prédio, lá no térreo, não passa de uma simples pedra, é claro que se ela for atirada com força ela vai deixar de ser tão simples e inofensiva, mas o estrago que ela é capaz nessa situação não se compara ao que ela pode fazer se for lançada da cobertura desse prédio, a 170 metros de altura. No alto desse imponente edifício, uma pedrinha possui o potencial de uma bala de revólver! Isso é um fenômeno físico muito interessante, que envolve dois conceitos: a energia potencial e a energia cinética. Se alguém simplesmente soltar essa pedra de lá de cima, ela chegará ao chão com uma velocidade de aproximadamente 650 km/h, que é a velocidade de uma bala de revólver calibre 32. O estrago que a pedra e o tiro podem fazer são muito semelhantes nessas condições.

Existe uma maneira de calcular tudo isso, mas eu não vou me aprofundar, afinal esse não é um texto de física ou matemática, mas vale a pena entender o conceito: a medida que algum objeto vai aumentando sua altura, vai sendo elevado do chão, ele aumenta o que chamamos de energia potencial, e quando num dado momento ele é solto, quando é colocado em movimento, essa energia potencial vai se tornando a energia cinética. A pedra na mão de alguém no alto daquele prédio tem o potencial de uma bala de revólver, mas somente quando ela é deixada cair é que esse potencial vai se tornando realidade e no momento em que ela chega ao chão, a cinética, o movimento que ela tomou, faz com que toda potencialidade se transforme em realidade, causando os mesmos efeitos que uma bala de revólver.

Todo ser humano tem dentro de si algumas pedras, e no meio de todo mundo, no chão da vida onde as coisas acontecem, essas pedras parecem inofensivas, e mesmo quando lançadas com força não conseguem efeitos notáveis. É interessante porque às vezes as pedras que temos podem ser bem grandes, e quando as vemos pensamos: “essa pedra pode fazer um grande estrago!” Todos conhecemos alguém assim: aquela pessoa que tem uma voz incrível, que canta maravilhosamente bem, aquele fulano que prega de maneira excepcional, pessoas cheias de dons e capacidades paradas no térreo da vida, grandes potenciais que não “acontecem”, que não vão pra frente, ministérios que tem tudo pra dar certo mas só “dão errado”, pregadores e ministros cheios de unção e de capacidades mas que não conseguem “fazer muito estrago”. Nosso mundo está repleto de pessoas assim, cheias de dons e talentos, mas que permanecem plantadas no chão, atirando seus dons sem colher grandes efeitos. Aí podemos pensar: “então vamos subir o prédio pra lançar a pedra lá de cima”. Muitos tentam fazer isso, tentam alcançar os lugares altos, chegar ao céu, mas ao longo do caminho sempre existem janelas abertas, possibilidades mais rápidas e mais fáceis, e nos contentamos com as janelas do décimo ou vigésimo andar, afinal “estaremos mais altos do que os outros que estão lá em baixo e o efeito do que lançarmos será maior do que quando estávamos no térreo”. Pessoas assim, geralmente são aquelas que se acomodaram no lugar onde estão, ou pior, se acomodaram no jeito como são. Se aquilo que cremos e pregamos não modifica o que somos, teremos sempre um ministério estagnado em alguma janela no meio do prédio. Nossas canções e pregações terão seus efeitos, mas poderiam causar muito mais impacto em nossas próprias vidas e nas vidas de quem nos ouve. Se agimos assim, nosso potencial será menor e a nossa cinética também. Limitamos o conhecimento de Deus pela janela do meio, de forma mediana, de forma medíocre.

Todo bom potencial, por menor ou maior que seja, precisa chegar ao ponto mais alto do edifício. Mas mesmo estando lá em cima, tendo acesso ao Senhor, conhecendo sua Palavra, tendo comunhão com sua verdade, a pedra está presa em nossa mão! Experiências com Deus não são garantia de mudanças de vida. Uma aparente intimidade com o Senhor mostra um potencial ainda maior, mas potencial ainda não é atitude. O bom conteúdo de composições e pregações nem sempre revelam uma mão que deixou a pedra cair.... Às vezes é a misericórdia de Deus e a necessidade de um povo que move o braço do Senhor em benefício das pessoas, e não o tamanho do dom e a vida de determinada pessoa. Nos tempos de hoje, onde os fins justificam os meios, onde o jeitinho brasileiro é normal, a grande mão que segura as pedras que temos é a nossa falta de caráter. Depois que conhecemos a Deus, quando subimos no alto do prédio, corremos o risco de mudar nosso modo de vestir, nosso modo de falar, comer e beber, mudar nossas companhias, mudar tudo, menos o coração. Fazemos as coisas certas diante dos homens. Mas é quando estivermos sozinhos, quando ninguém puder nos ver ou descobrir, quando não houver possibilidade de reprovação de ninguém, aí é que temos a oportunidade de provar se temos caráter ou não, de escolher o certo simplesmente porque é certo, de mostrar a Deus que realmente fomos mudados de dentro pra fora, de que em nós habita carisma, mas acima de tudo habita caráter!

Um caráter íntegro é a mão que se abre no alto do prédio e deixa cair a pequena pedra. É nesse momento que toda a energia potencial guardada em uma canção, pregação, ou em uma simples oração entra em movimento e se torna energia cinética. E aquela mísera pedra quando alcança o chão deste mundo se torna a arma mais perigosa de que se tem notícia, porque não são carnais as armas com que lutamos. São poderosas, em Deus, capazes de arrasar fortificações (II Cor 10, 4).

O mundo está cheio de fortalezas, cheio de fortificações de violência, guerras, ódio, fome, miséria, corrupção, medo e indiferença... Quando os homens e mulheres de Deus se levantarem decididos a enfrentar o prédio mais alto e lá em cima revelar uma caráter sem máculas ao Senhor, então nosso mundo será bombardeado por canções, pregações e orações que não se restringirão às paredes das igrejas, mas que trarão nova vida à humanidade, invadindo nossas ruas, bairros, cidades e países. Ações que irão mudar as pessoas de dentro pra fora. Atitudes que terão como conseqüência a devolução da dignidade ao nosso povo. Gestos que colocarão líderes honestos em nossos governos. Haverá pão partilhado na igreja e também nas casas. Justiça e paz se abraçarão (Salmo 58, 11). Enfim poderemos ver o potencial se tornar realidade, enfim chegará até nós o Reino de Deus: POTENCIAL EM MOVIMENTO!

Um abraço,

Gilberto Monteiro
Missão IDE

Exclusivo para o Portal Católico

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O que muda depois da Páscoa?

Esse ano tive uma Páscoa diferente. Viajei em missão para Campos dos Goytacazes, interior do estado do Rio de Janeiro, para um encontro realizado em pleno domingo de Páscoa. Era a nona edição da Festa da Vitória. O encontro foi muito bom e Deus fez muitas coisas ao longo daquele dia. Mas algo ficou no meu coração: o que iria mudar na vida daquelas pessoas depois daquele encontro? O que muda nas nossas vidas depois que celebramos a Páscoa?
Sinceridade, na vida da maioria das pessoas, principalmente dos cristãos, não muda muita coisa. Passamos pelos dias de Páscoa e pelas celebrações e depois voltamos à nossa vida normal na segunda-feira. Voltamos ao nosso jeito de viver, pensar e reagir diante das situações sem se deixar influenciar em nada pela Páscoa que vivemos no feriado prolongado de dias atrás.
Me refiro dessa forma porque gosto de perguntar às pessoas como vai a vida, como vão as coisas e as respostas, em grande parte, são sempre as mesmas, independente da situação social, da crença e fé, de escolaridade ou da idade. Todos sempre estamos enfrentado situações difíceis, lutando, às vezes perdendo, às vezes ganhando... Mas parece que existe um consenso coletivo: as coisas estão difíceis!
Existem certas situações que realmente são difíceis. Realidades que nos oprimem, e a opressão nos faz sucumbir. Realidades de penúria, necessidades não satisfeitas que nos levam ao desespero. Realidades de perseguição que nos deixam desamparados. Realidades onde somos abatidos e nos sentimos destruídos.
A opressão que a corrupção política exerce no Brasil é tão grande que já foi “inculturada” na nossa vida cotidiana. O famoso jeitinho brasileiro! Ganhar um pouco a mais às custas de alguém, sem que esse alguém saiba. Mentirinhas aqui e ali que não fazem mal a ninguém. Afinal, é mais fácil e mais rápido ceder à porta larga. Quando somos oprimidos, nossa reação é ceder, sucumbir.
Quem não sabe lidar com as frustrações acaba ficando deprimido. Quem não sabe administrar suas privações e limitações, sua penúria, acaba entrando em desespero. Quem está numa situação assim está sem esperança, tenta abrir qualquer porta pra resolver sua necessidade, a qualquer preço. Você se lembra da Porta dos Desesperados do programa de TV do Sérgio Malandro? Na maioria das vezes o que saía de lá de dentro não era o brinquedo, quase sempre era o “bicho-papão”. Em situações de penúria quase sempre ficamos desesperados, e a solução encontrada em momentos de desespero nem sempre são boas.
Outra situação difícil é quando estamos sendo perseguidos. Uma pessoa só é perseguida quando algo que ela faz ou representa incomoda uma situação estável em algum ambiente. Um político honesto será perseguido aqui no Brasil. Um marido fiel será perseguido em seu trabalho se nesse ambiente a infidelidade for algo normal. Um policial de bom caráter será perseguido se a maioria do batalhão estiver acostumado a algumas trocas e benefícios com criminosos. Nesses momentos de perseguição, parece que não existe lugar seguro. Quando somos perseguidos, geralmente nos sentimos desamparados.
Todas essas situações nos deixam abatidos. Sabe quando o jogo já está perto do final, e o seu time está perdendo por três gols de diferença. Toda a equipe fica abatida. O jogo já está perdido. Sabe quando o casamento não vai bem? Quando qualquer vício já é maior que a vontade de mudar? Quando parece que tudo concorre para o mal? Quando somos abatidos, nos sentimos destruídos.
E assim seguimos, dia após dia, Páscoa após Páscoa, quando na verdade esse feriado no calendário deveria nos relembrar coisas diferentes. Jesus foi oprimido pelos judeus e pelos romanos. Jesus passou a maior penúria em seus últimos momentos, tiraram dele a dignidade, as roupas, a família, e até os amigos o abandonaram. Jesus foi perseguido até o fim, chegaram até a preferir Barrabás, um assassino, do que preferir a ele. Por fim, Jesus foi morto, literalmente abatido. Mas o desfecho de toda essa situação nós sabemos, ele ressuscitou.
A Páscoa deve mudar nossa maneira de reagir em relação às dificuldades que passamos. “Em tudo somos oprimidos, mas não sucumbimos. Vivemos em completa penúria, mas não desesperamos. Somos perseguidos, mas não ficamos desamparados. Somos abatidos, mas não somos destruídos. Trazemos sempre em nosso corpo os traços da morte de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo” (II Coríntios 4, 8-10).
As mudanças na vida começam de dentro para fora. Manter uma posição íntegra e correta não nos deixa ceder quando somos oprimidos. Saber buscar e esperar o melhor com paciência afasta o desespero, principalmente nos momentos de penúria, e mais ainda, nos dá esperança! Quando formos perseguidos por uma razão nobre, precisamos nos manter firmes: ou Deus irá mudar todo aquele ambiente através do nosso comportamento, ou Deus irá nos colocar em um lugar melhor. Nunca estamos desamparados. Quando o jogo parece perdido. Quando parece que chegou o fim... Precisamos lembrar, embora abatidos, não estamos destruídos.
Quando nossas reações forem diferentes veremos ressurreição em nossas casas, em nossos empregos, escolas e igrejas. Veremos ressuscitar uma política confiável e um povo brasileiro mais honesto. Não se ouvirá falar em depressão, porque os ressuscitados lidam com as perdas e frustrações muito bem, sempre dando a volta por cima! Ser íntegro será algo normal e ninguém se sentirá coagido quando estiver do lado da verdade, porque embora possa estar sendo perseguido, a ressurreição nos torna amparados. Aqueles que ressuscitam podem até ter as marcas dos pregos nas mãos, podem até ter cicatrizes profundas das cruzes que carregaram, alguns irão parecer abatidos, mas não nos enganemos, “a presente tribulação, momentânea e ligeira, nos proporciona um peso eterno de glória incomensurável” (II Coríntios 4, 17). Abatidos? Pode ser. Destruídos? Jamais!
A Páscoa se repete todo ano pra lembrarmos que assim como Jesus, precisamos ressuscitar em nosso jeito de viver e encarar a vida! Que seja essa a mudança depois da Páscoa.

Um abraço,
Gilberto Monteiro

sexta-feira, 19 de março de 2010

O irmão do filho pródigo

Um domingo desses, depois que saí da missa, fiquei pensando no evangelho que havia sido lido. Era a famosa parábola do filho pródigo. Tantas canções já foram inspiradas nessa passagem, falando sempre a respeito do que mais nos atrai quando a lemos: o amor e a misericórdia do pai em relação ao filho que estava perdido e foi encontrado, estava morto, mas agora vive (Lucas 15, 24). Nesse domingo, em especial, pensei mais no irmão do filho pródigo, aquele que ficou indignado com a festa que o pai estava dando.

Meditar nesse indivíduo me fez lembrar uma vez que fui pra minha cidade natal, Rio Branco do Sul/PR. Nessa ocasião o assunto do momento era uma igreja evangélica que estava arrebanhando muita gente na cidade. Jovens, adultos, famílias, não havia um grupo específico, algo de bom estava acontecendo naquele lugar e o povo estava lotando todos os cultos que eram realizados. Lembro-me que conversando com alguns conhecidos meus que eram do mesmo grupo de oração que eu participava, houve um comentário que ficou na minha mente: “eu nunca vou participar daquela igreja, lá só existe ex-prostituta, ex-drogado, ex-traficante, ex-ladrão...”.
Essa fala ficou na minha memória tanto tempo e voltou nesse domingo quando ouvi de novo o evangelho do pródigo. Me fez pensar que conseguimos nos identificar muito com o filho mais novo quando estamos longe de Deus ou quando ainda não o conhecemos, e lá no fundo do poço, resolvemos voltar pra casa do pai. Basta ouvir a canção Abraço de pai* pra lembrar da nossa conversão ou de um momento em que voltamos pra Deus. Muito bonito e emocionante, mas depois que já estamos na igreja, que estamos integrando o corpo de Cristo, que muitas vezes o servimos de alguma forma, dificilmente nos identificamos com o filho mais velho, apesar de a maioria de nós termos as mesmas reações que ele. Preciso confessar que muitas vezes eu me portei da mesma forma, sem nem perceber. Já chorei quando fui um pródigo e voltei pros braços do pai, mas já esbravejei quando vi um “pecador” cantando no meu lugar. Já me achei indigno de voltar pra Deus por causa dos meus erros, mas também já julguei determinada pessoa como indigna de estar pregando por causa dos erros que cometeu no passado. Eu voltei pra casa do pai e ganhei uma festa, mas muitas vezes eu fiquei de luto quando meu irmão estava ganhando uma festa do mesmo pai que me acolheu.
O pai, quando recebe o filho mais novo, o coloca em um lugar de honra. Troca suas roupas, porque agora o que veste a vida dele é um novo jeito de viver, independente do passado. Coloca um anel em seu dedo, porque agora ele pertence de novo a uma linhagem, a uma descendência, a uma família. Põe sandálias novas, porque o caminho a trilhar é outro, novos rumos, novos calçados. Quantas vezes eu insisti em enxergar as vestes antigas daquele indivíduo lembrando pra mim mesmo e pra todo mundo o que ele fazia, quando na verdade nem Deus se lembra mais daquilo. Quantas vezes eu fui indiferente com algumas pessoas, como se nem fôssemos da mesma linhagem, nem tivéssemos a mesma descendência: não éramos da mesma família. Quantas vezes eu fiquei esperando que determinada pessoa voltasse para os caminhos antigos, só pra dizer: “eu sabia, eu disse, eu avisei!”.
Francamente, como vamos reagir se todos os criminosos se converterem? Se todos os que cometeram adultério no casamento voltarem ao nosso convívio? Se as prostitutas freqüentarem o mesmo grupo de oração que o nosso? Se algum homossexual sentar no mesmo banco onde eu estou dentro da igreja? Se algum mal visto pela sociedade estiver na mesma fila de comunhão? Como reagiremos quando vier o Reino de Deus?
Eu preciso aprender que a casa do Senhor é a casa da “ex-prostituta, ex-drogado, ex-traficante, ex-ladrão...”. E como bom irmão mais velho, que eu ajude o pai a colocar novo jeito de vestir a vida, novo jeito de ser família, novos calçados pra um novo caminho.
Já se pode ouvir os sons das músicas e das danças ao se aproximar da casa do Pai (Lucas 15, 24). É o som dos redimidos que descobriram o caminho de volta. É a comemoração do céu pela conversão de um pecador. É o júbilo do pai ao ver todos os seus filhos juntos: os pródigos e os seus irmãos.
Um abraço,
Gilberto Monteiro

*Abraço de pai: música inesquecível no dueto da Adriana com Walmir Alencar, ou nas versões do próprio Walmir no CD Imagem e Semelhança e ao vivo no DVD Hoje livre sou do Ministério Adoração e Vida.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Feirantes na igreja

Todo domingo, quando não estou em missão e estou em casa, gosto muito de ir à feira do meu bairro, aquela onde se compra frutas, verduras, etc. O horário bom de movimento começa pelas nove horas da manhã, é quando o pastel já está no ponto, e toda boa feira tem seu famoso pastel. Dá pra encontrar muita gente conhecida, conversar e depois fazer as compras. Em um desses dias especialmente, ao comprar entre outras coisas alguns tomates, me lembrei de uma formação que ouvi no discipulado da Missão IDE.
O tomateiro (planta do tomate) e o feirante, ambos possuem o mesmo objetivo, fornecer tomate. Mas os meios pra fazer isso são diferentes para cada um.
Todo dia de feira, o feirante levanta cedo e vai até a distribuidora de frutas e verduras da região onde compra os tomates que vai revender, porque ele somente vende o tomate, ele mesmo não o possui, então precisa comprar pra depois revender. Todo vegetal que serve à alimentação tem seu tempo, sua estação correta, mas como nem sempre se pode esperar esse tempo, o feirante acaba levando um tomate amadurecido “à força” com o uso de agrotóxicos ou coisas semelhantes, e esses tomates embora sejam bem vermelhos e bonitos, quase não tem sabor. Isso também faz com que os clientes procurem outras bancas de tomate na feira, em busca de um que tenha sabor. O feirante vende o tomate com a intenção de receber algo em troca, independente do que está vendendo. Poderia ser qualquer outra fruta ou verdura, o importante é o lucro que gera, é esse valor que vai manter e sustentar sua vida, sua maneira de trabalhar e sobreviver.

O tomateiro, plantado em alguma horta, recebe o sol, a chuva, e vai juntando seus nutrientes, às vezes com a ajuda de algum adubo, até que no tempo certo o tomate fique vermelho e mostre que está pronto pra ser colhido, mostre que amadureceu. Depois de colhido, o tomateiro fica vazio, seus frutos são todos retirados sem que ele receba algo em troca. E a única coisa que ele pode fazer é retomar o motivo pelo qual existe: produzir tomates mais uma vez. Os frutos que foram colhidos nessas condições possuem um sabor verdadeiro de tomate e são muito saborosos.
Com esses fatos percebi como é grande o risco de sermos feirantes dentro da igreja. Há situações em que não temos a capacidade de saciar a fome das pessoas e acabamos comprando frutos de outros lugares pra revendermos na igreja onde participamos, imitando o que outros ministros fazem, vendendo algo que nós mesmos não possuímos, e o interessante é que quando fazemos assim sempre esperamos algo em troca: um elogio, um aplauso, coisas que possam manter e sustentar nosso ministério. Determinados momentos chegamos a “empurrar” um fruto que o povo nem precisa, mas como temos o nosso jeito de trabalhar e sobreviver com nossos dons, fazemos grandes ofertas dos  nossos frutos. Não conseguimos oferecer ao povo as frutas da estação, frutas da época certa, então como não esperamos o amadurecimento acabamos dando pregações e canções sem sabor que não saciam ninguém, e quando não matamos a fome do povo, ele busca em outras “feiras” algo que sacie de verdade.

Precisamos ser tomateiros, na igreja e na sociedade. Temos uma missão, um chamado, produzir determinado fruto, fazer render determinado talento (Mateus 25, 15). Somos “como a árvore plantada na margem das águas correntes: damos frutos na época própria, nossas folhagens não murcharão jamais. Tudo o que empreendemos, prospera” (Salmo 1, 3). Estamos plantados em Deus, de onde recebemos unção, sabedoria, inteligência e tantas outras características do Senhor que nos fazem amadurecer no tempo certo. Quando estamos maduros o povo é quem nos procura e é Deus quem abre as portas de lugares para ministrarmos. Frutos maduros são um deleite para o povo, e as pessoas irão voltar sempre, em busca daquele sabor incomparável. Se formos realmente tomateiros nossos ministérios nunca dependerão de retribuições como aplausos e elogios para continuar a existir, porque essas coisas não fazem diferença no crescimento ou amadurecimento dos nossos frutos, também porque como o tomateiro, depois de frutificarmos, a única coisa que podemos fazer é retomar o motivo pelo qual existimos: produzir frutos mais uma vez.

Independente do carisma que temos ou do chamado que possuímos, o importante é frutificar. E que os frutos sejam genuínos.

Boa quaresma a todos!

Um abraço,
Gilberto Monteiro


*dedico esse texto aos meus amigos da RCC da comarca de Araranguá-SC. Nosso Carnaval foi só alegria, ALEGRA-TE!



Você pode fazer o download da formação que citei através do link CARISMA E CARÁTER.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Teoria das estruturas espirituais

Ao longo dos nossos estudos sempre nos questionamos se toda a teoria que aprendemos vamos realmente utilizar algum dia. Lembro que umas das primeiras disciplinas do curso de engenharia civil em que percebi que toda aquela conversa se aplicava realmente, e que não era só mais uma matéria sem uso, foi a Teoria das Estruturas. Um conceito muito interessante de estrutura é que ela é “um sistema destinado a proporcionar o equilíbrio de um conjunto de ações, capaz de suportar as diversas ações que vierem a solicitá-la durante a sua vida útil sem que ela perca a sua função” (site da Faculdade de Engenharia civil e Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP). A palavra chave desse texto é equilíbrio. Qualquer estrutura sem equilíbrio pode cair. As Torres Gêmeas de Nova York caíram porque a colisão dos aviões tirou o equilíbrio das suas estruturas. Em 1998, no Rio de Janeiro, o edifício Pallace II caiu porque foi mal dimensionado, e sem equilíbrio acabou caindo.

O dicionário Aurélio trás duas definições muito interessantes, diz que equilíbrio é a manutenção dum corpo na posição normal, sem oscilações ou desvios, que é a igualdade entre forças opostas. Para se dimensionar as vigas e as lajes de uma casa, se pensa em todos os esforços que essas estruturas irão receber e então se dimensiona o tamanho, quantidades de aço e concreto que irão receber. Conhecimento nessa hora é importante, aço e concreto a menos podem tornar as coisas mais fáceis e mais baratas na execução, mas não garantem o equilíbrio da estrutura. Aço e concreto demais também podem tornar tudo muito mais caro e até perigoso, uma laje muito pesada poderá desabar quando receber algum peso ou movimento em cima dela, e lá se vai o equilíbrio. Há um ponto exato onde todos os materiais bem dimensionados garantem que a estrutura vai se manter sem oscilações ou desvios, como disse o Aurélio.

Assim como em todas as casas, prédios e pontes, também existe uma Teoria das estruturas para o nosso espírito. Ou então como iríamos construir os edifícios espirituais (I Pedro 2, 5)? Quando Deus cria um ser humano sobre a face da Terra, ele dimensiona a cada um com um potencial de se tornar o maior e mais estável prédio que possa existir. Infelizmente a cultura em que vivemos, as dificuldades e o pecado acabam por tirar nosso equilíbrio e ao invés de grandes casas acabamos nos tornando barracos que de imponentes não tem nada. Os esforços que a vida nos apresenta, as tribulações pelas quais passamos, as tentações que Deus permite para nos provar, essas são as condições que os edifícios espirituais precisam agüentar firme. Quando vemos tudo isso, nem sempre conseguimos nos manter no ponto central do equilíbrio, acabamos na maioria das vezes nas extremidades, como aquelas condições que falamos logo acima.

Há quem veja todas as condições que a vida propõe e dimensiona seu edifício com pouquíssimo aço e quase nada de concreto. São pessoas que não querem saber de Deus ou da plenitude de vida que Ele tem a oferecer. São amigos nossos que confiam nas suas próprias forças. Somos nós quando abrimos mão da comunhão com Deus e escolhemos qualquer outra coisa que aparentemente dê prazer mais rápido e satisfaça as nossas necessidades. Essa é uma extremidade perigosa.

A outra extremidade são as pessoas que põe em sua construção todo o aço e concreto que puderem, quanto mais melhor. Se cercam de falsas crenças e de conceitos de construção que o grande construtor do universo nunca se utilizou. São amigos nossos que confiam em suas próprias forças pra não errar, são suficientes em si mesmos para não pecar. Somos nós quando temos coisas reprimidas dentro de nós mesmos e acabamos impondo para nós e para os outros algumas leis que aparentemente asseguram um equilíbrio mais rápido e satisfazem nossas necessidades. Essa é uma extremidade ainda mais perigosa, porque na outra situação a noção da distância de Deus é certa, quando se está no fundo do poço só se pode olhar pra cima e a única coisa que se vê é o céu. Quando estamos na extremidade oposta, de fora do poço, então temos muitas coisas ao redor pra olhar e esquecemos de olhar pro céu. Acabamos baseando a santidade naquilo que deixamos de fazer, quando na verdade a santidade vem quando eu faço todas as coisas cada vez mais parecido com Jesus. Um edifício espiritual com aço e concreto demais, com muitas leis de pode e não pode, não agüenta o peso das coisas mal curadas que tem dentro de si, e quando essas coisas entram em movimento, tudo desaba.

Muito se fala em ser do mundo. Muito se ouve em ser radical. Essas são as extremidades, há que se ter cuidado, é muito mais fácil permanecer nelas, o difícil é ter equilíbrio diante de tudo e de todos.

Quando estamos nas extremidades, o centro sempre está preenchido por nós mesmos. Nossas vontades, nossos desejos, nossas necessidades, nossas paixões... Infelizmente o ser humano é muito fraco e instável pra ocupar o centro do universo. Quando estamos vivendo em equilíbrio, Deus é o centro. A vontade e o desejo de Deus são muito melhores, “Ele pode fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou entendemos (Efésios 3, 20)”, a partir daí as nossas escolhas são sempre maduras e sadias. Aprendemos a estender a mão somente para as coisas que convém.

Comece agora a construir a sua vida com equilíbrio e prove hoje mesmo da vida em abundância que Jesus tem pra você.

Um abraço,

Gilberto Monteiro

*dedico esse texto ao meu novo leitor... kkk. Meu batera preferido, Paulo Santi. "É nóis, mano!"

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Desmontando o presépio

Baltazar, Gaspar e Belquior, os três reis do Oriente. Segundo o Pe. Zezinho, “dizem que um é branco, o outro cor de jambo, o outro rei é negro e que vieram ver o novo rei que nasceu igual estrela no céu”*. Independente se eram somente reis ou se eram somente magos, ou se eram as duas coisas, vieram seguindo uma estrela que os levaria ao grande Rei. Em alguns episódios da Bíblia quando reis se encontram, é muito comum a troca de presentes, e com esses reis não foi diferente. Trouxeram três, e a maioria das pessoas sabe quais são: ouro, incenso e mirra.

Desde então essas três pessoas passaram a ser lembradas todos os anos na época do Natal. Suas figuras variam muito a cada presépio montado, mas sempre estão formando o trio com as caixinhas de presente nas mãos. Sabemos que eles “acharam o menino com Maria, sua mãe, e prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho (Mateus 2, 11-12”).

Também fazem parte do presépio os pastores, os anjos, José e Maria, uma manjedoura e alguns animais, na maioria das vezes representados por um burrinho simpático que deveria dormir naquele estábulo. Esse cenário deve ter durado uma noite somente, porque o dia amanheceu, a estrela apagou, os reis voltaram por outro caminho, os pastores retornaram aos campos e os anjos devem ter seguido para diante do trono de Deus. E as outras figuras desse momento, Maria, José e Jesus? Eles foram pra onde depois que todos saíram? Segundo o evangelista Mateus “um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar. José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito. Ali permaneceu até a morte de Herodes para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: Eu chamei do Egito meu filho (Os 11,1) – (Mateus 2, 13-15).”

Jesus e seus pais passaram alguns poucos anos no Egito até que Herodes morreu e então voltaram à sua terra. Penso que durante esse tempo no Egito, os presentes dos reis magos foram de grande valia, principalmente o ouro, na compra de mantimentos, hospedagem e outras coisas que demandassem dinheiro durante esse período de exílio. Como no musical Jesus Christ Superstar, de Andrew Lloyd Webber, imagino que a mirra deve ter sido usada por Maria como curativos em Jesus, isso porque a mirra tem propriedades anti-sépticas exploradas até hoje em dia. Como estavam no Egito, com certeza devem ter visto os cultos prestados por aquele povo aos seus vários deuses. Os judeus costumavam queimar incensos no altar dos perfumes do templo, uma vez pela manhã e outra pela tarde, em sinal de adoração ao Deus verdadeiro. Maria e José, como bom judeus que eram, devem ter oferecido todo aquele incenso que receberam em adoração ao Senhor.

O tempo passou, o ouro acabou, a mirra gastou e o incenso queimou... Era hora de voltar a Israel. José retomou sua profissão de carpinteiro para sustentar a casa, e com o que recebia devia comprar a mirra que precisasse no caso de algum corte ou machucado. Também com seu trabalho conseguia comprar o incenso que oferecia em adoração a Deus.

Coisa muito comum é a cultura dos presentes no Natal. Sejam os presentes que ganhamos dos familiares ou dos amigos-secretos que fazemos no trabalho. Alguns desses presentes, às vezes, tem uma vida longa, mas a maioria não. Boa parte do que ganhamos tem uma vida útil ou simplesmente acaba. Uma roupa, um perfume, um livro... Mas dezembro sempre chega, e no fim do ano sempre esperamos ganhar presentes de novo.

O presépio verdadeiro foi desmontado a dois mil anos atrás. Os presentes duraram seu tempo. José, Maria e Jesus tiveram que seguir suas vidas, porque os reis não voltaram mais com seus tesouros para presentear Jesus. O presépio nunca mais se repetiu na vida de Jesus. Nenhum rei nunca mais se prostrou diante dele. Os anjos que vieram visitá-lo o alimentaram no deserto e o acompanharam na angústia do Getsêmani, mas não cantaram os mesmos cantos de antes. Os pastores, as pessoas simples que o olharam com amor, gritaram CRUCIFICA-O! Do presépio saiu um homem que de uma vez por todas viveu em plenitude seu destino de fazer presépios na vida de todos aqueles que o conhecessem.

Aquele que segue Jesus sente como se ganhasse uma porção de amor, esperança e coragem a cada Natal. Os presentes auxiliam por um tempo, mas duram o suficiente pra que se cresça em estatura e graça diante de Deus e dos homens, até que a cruz chegue e enfim a glória.

Infelizmente o que mais aontece é que a maioria de nós recebe esses presentes, não os utiliza e depois que percebe que vive sem amor, sem esperança e sem coragem, monta o presépio de novo pra recebê-los mais uma vez. Aquilo que nasce em nós, aquilo que cremos, não muda o que somos. Acabamos não crescendo em estatura, muito menos em graça.

Nesse Natal que passou, o rei que nos visitou foi Jesus e trouxe muitos presentes. Vamos aproveitá-los! Que o próximo Natal nos encontre adultos no que cremos. Fiéis aos que acreditamos. Dedicados aos que amamos. Crescendo...

Ouro, incenso e mirra pra todos nós!

Um abraço,

Gilberto Monteiro