segunda-feira, 12 de abril de 2010

O que muda depois da Páscoa?

Esse ano tive uma Páscoa diferente. Viajei em missão para Campos dos Goytacazes, interior do estado do Rio de Janeiro, para um encontro realizado em pleno domingo de Páscoa. Era a nona edição da Festa da Vitória. O encontro foi muito bom e Deus fez muitas coisas ao longo daquele dia. Mas algo ficou no meu coração: o que iria mudar na vida daquelas pessoas depois daquele encontro? O que muda nas nossas vidas depois que celebramos a Páscoa?
Sinceridade, na vida da maioria das pessoas, principalmente dos cristãos, não muda muita coisa. Passamos pelos dias de Páscoa e pelas celebrações e depois voltamos à nossa vida normal na segunda-feira. Voltamos ao nosso jeito de viver, pensar e reagir diante das situações sem se deixar influenciar em nada pela Páscoa que vivemos no feriado prolongado de dias atrás.
Me refiro dessa forma porque gosto de perguntar às pessoas como vai a vida, como vão as coisas e as respostas, em grande parte, são sempre as mesmas, independente da situação social, da crença e fé, de escolaridade ou da idade. Todos sempre estamos enfrentado situações difíceis, lutando, às vezes perdendo, às vezes ganhando... Mas parece que existe um consenso coletivo: as coisas estão difíceis!
Existem certas situações que realmente são difíceis. Realidades que nos oprimem, e a opressão nos faz sucumbir. Realidades de penúria, necessidades não satisfeitas que nos levam ao desespero. Realidades de perseguição que nos deixam desamparados. Realidades onde somos abatidos e nos sentimos destruídos.
A opressão que a corrupção política exerce no Brasil é tão grande que já foi “inculturada” na nossa vida cotidiana. O famoso jeitinho brasileiro! Ganhar um pouco a mais às custas de alguém, sem que esse alguém saiba. Mentirinhas aqui e ali que não fazem mal a ninguém. Afinal, é mais fácil e mais rápido ceder à porta larga. Quando somos oprimidos, nossa reação é ceder, sucumbir.
Quem não sabe lidar com as frustrações acaba ficando deprimido. Quem não sabe administrar suas privações e limitações, sua penúria, acaba entrando em desespero. Quem está numa situação assim está sem esperança, tenta abrir qualquer porta pra resolver sua necessidade, a qualquer preço. Você se lembra da Porta dos Desesperados do programa de TV do Sérgio Malandro? Na maioria das vezes o que saía de lá de dentro não era o brinquedo, quase sempre era o “bicho-papão”. Em situações de penúria quase sempre ficamos desesperados, e a solução encontrada em momentos de desespero nem sempre são boas.
Outra situação difícil é quando estamos sendo perseguidos. Uma pessoa só é perseguida quando algo que ela faz ou representa incomoda uma situação estável em algum ambiente. Um político honesto será perseguido aqui no Brasil. Um marido fiel será perseguido em seu trabalho se nesse ambiente a infidelidade for algo normal. Um policial de bom caráter será perseguido se a maioria do batalhão estiver acostumado a algumas trocas e benefícios com criminosos. Nesses momentos de perseguição, parece que não existe lugar seguro. Quando somos perseguidos, geralmente nos sentimos desamparados.
Todas essas situações nos deixam abatidos. Sabe quando o jogo já está perto do final, e o seu time está perdendo por três gols de diferença. Toda a equipe fica abatida. O jogo já está perdido. Sabe quando o casamento não vai bem? Quando qualquer vício já é maior que a vontade de mudar? Quando parece que tudo concorre para o mal? Quando somos abatidos, nos sentimos destruídos.
E assim seguimos, dia após dia, Páscoa após Páscoa, quando na verdade esse feriado no calendário deveria nos relembrar coisas diferentes. Jesus foi oprimido pelos judeus e pelos romanos. Jesus passou a maior penúria em seus últimos momentos, tiraram dele a dignidade, as roupas, a família, e até os amigos o abandonaram. Jesus foi perseguido até o fim, chegaram até a preferir Barrabás, um assassino, do que preferir a ele. Por fim, Jesus foi morto, literalmente abatido. Mas o desfecho de toda essa situação nós sabemos, ele ressuscitou.
A Páscoa deve mudar nossa maneira de reagir em relação às dificuldades que passamos. “Em tudo somos oprimidos, mas não sucumbimos. Vivemos em completa penúria, mas não desesperamos. Somos perseguidos, mas não ficamos desamparados. Somos abatidos, mas não somos destruídos. Trazemos sempre em nosso corpo os traços da morte de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo” (II Coríntios 4, 8-10).
As mudanças na vida começam de dentro para fora. Manter uma posição íntegra e correta não nos deixa ceder quando somos oprimidos. Saber buscar e esperar o melhor com paciência afasta o desespero, principalmente nos momentos de penúria, e mais ainda, nos dá esperança! Quando formos perseguidos por uma razão nobre, precisamos nos manter firmes: ou Deus irá mudar todo aquele ambiente através do nosso comportamento, ou Deus irá nos colocar em um lugar melhor. Nunca estamos desamparados. Quando o jogo parece perdido. Quando parece que chegou o fim... Precisamos lembrar, embora abatidos, não estamos destruídos.
Quando nossas reações forem diferentes veremos ressurreição em nossas casas, em nossos empregos, escolas e igrejas. Veremos ressuscitar uma política confiável e um povo brasileiro mais honesto. Não se ouvirá falar em depressão, porque os ressuscitados lidam com as perdas e frustrações muito bem, sempre dando a volta por cima! Ser íntegro será algo normal e ninguém se sentirá coagido quando estiver do lado da verdade, porque embora possa estar sendo perseguido, a ressurreição nos torna amparados. Aqueles que ressuscitam podem até ter as marcas dos pregos nas mãos, podem até ter cicatrizes profundas das cruzes que carregaram, alguns irão parecer abatidos, mas não nos enganemos, “a presente tribulação, momentânea e ligeira, nos proporciona um peso eterno de glória incomensurável” (II Coríntios 4, 17). Abatidos? Pode ser. Destruídos? Jamais!
A Páscoa se repete todo ano pra lembrarmos que assim como Jesus, precisamos ressuscitar em nosso jeito de viver e encarar a vida! Que seja essa a mudança depois da Páscoa.

Um abraço,
Gilberto Monteiro